segunda-feira, 1 de agosto de 2016

MÊS EDGAR ALLAN POE NO SESC CONSOLAÇÃO - 2009

LEITURAS ENCENADAS DAS OBRAS DE EDGAR ALLAN POE NA SALA DE LEITURA DO SESC CONSOLAÇÃO EM 2009 - CIA O GRITO.

RESUMO

O Projeto “Leituras e Intervenções”, articulará algumas obras da literatura e da poesia de Poe com momentos referentes a sua vida. Faremos leituras encenadas levando em consideração dois tipos de público: - publico jovem que terá contato com seus contos de mistério e investigação e poesias juvenis; - publico adulto que terá contato com seus contos de terror e poesias sobre a morte. Os contos e poesias escolhidos para essas intervenções são respectivamente:O Sistema do Doutor Alcatrão e do Professor Pena, O Retrato Oval, Sepultamento Prematuro e Assassinatos na Rua Morgue; Poesias: “Para” e “Imitação”; Contos: O Gato Preto, Berenice, O Poço e o Pêndulo e Hop-Frog; Poesias: “O Corvo” e “Só”. Cartas de Poe e fatos referentes à sua vida serão citados entre as leituras. Também será disponibilizada uma bibliografia para pesquisa sobre Poe, bem como um resumo de sua conturbada vida. 


AS RAZÕES DE POE

Para o escritor Edgar Allan Poe, os sonhos têm importância fundamental dentro de sua poética. As personagens conseguem se libertar da castração de suas consciências e liberar todo o conteúdo do inconsciente, do íntimo de suas almas. Tal libertação refletiria a busca pelo Romantismo de uma dimensão totalizante perdida pelo ser humano ao longo da história, mistura de consciente e inconsciente, razão e sentimento.
Entretanto, quando Poe libera este material inconsciente em suas obras, acaba por delinear duas vertentes bem díspares: por um lado o divino, o alto, uma evasão da realidade objetiva; por outro, todas as pulsões mais perversas dos instintos humanos, todas as paixões e ódios abafados pela razão. Isso possibilita um tratamento fantástico com conotações surreais em seus contos, que apresentam perseguições, emparedamentos e loucuras permeando a narrativa.
É preciso salientar que tal liberação do inconsciente é seguida de um trabalho bastante consciente de escritura, uma racionalização do onírico e fantástico. 


VIDA E OBRA

            Edgar Allan Poe nasceu em Boston, em 19 de janeiro de 1809. Sua família paterna, de origem irlandesa, vivia em Baltimore, e era reconhecida entre as melhores famílias da região. Seu avô, David Poe, participou com bravura da Guerra da Independência norte americana e seu pai, David Poe Jr, fez-se herdeiro do espírito de aventura que conduzira seu avô às trincheiras. David abandonou seus pais e casou-se com a atriz inglesa Elizabeth Arnold. Ele juntou-se a troupe de teatro de sua esposa e saiu em viagem pelos Estados Unidos, trabalhando como ator junto de sua esposa. Com uma vida desregrada, devido as péssimas condições das viagens, David Poe Jr, morrerá tuberculoso e alcoólatra, logo após o nascimento de Edgar, seu terceiro filho com Elisabeth, que falecerá três anos depois, também de tuberculose, deixando os filhos pequenos à mercê da caridade de comerciantes e familiares da cidade de Richmond na Virginia, uma de suas ultimas paradas com seu grupo. Edgar será acolhido por uma rica família de comerciantes, os Allan, que o criarão como filho, apesar de nunca oficializarem a adoção.

            Sua mãe adotiva, Francês Keeling Valentine, esposa do rico comerciante John Allan, proporcionará ao garoto uma infância abastada, o que inclui um período como estudante na Inglaterra que o influenciará em sua escrita. Poe é mandado primeiro para a casa da tia de seu pai adotivo, Sra Mary Alan em Irvine na Escócia, e posteriormente estudará em Londres e Stoke Newington:  “Uma aldeia afagada numa multidão de árvores gigantescas e nodosas e onde todas as casas pareciam excessivamente velhas”; segundo palavras do próprio Poe.
            Em 1824 com 15 anos  de idade , Poe começa a escrever seus primeiros poemas, é também o ano da primeira decepção amorosa: – a mãe de um colega, pela qual se sentia atraído, morre louca e tuberculosa. No ano seguinte, ele apaixona-se por uma vizinha, Sarah Elmira Royster Shelton, que é forçada a se casar com um rico comerciante local. Serão estes os primeiros desencontros amorosos, de uma série que Poe terá ao longo de sua curta vida.
            Em fevereiro de 1826, seu pai adotivo o matricula na Universidade da Virginia, cujos estudantes se distraem com jogos de azar, brigas, ópio e bebedeiras. Afunda-se no vício, acumula muitas dívidas no jogo e no final do ano é forçado por seu pai a largar os estudos e a se alistar no exército em Boston.
            Nessa época publica seu primeiro livro de poemas, “Tamerlão e Outros Poemas” (1827), cuja edição passa completamente despercebida. A seguir compõe o poema “Al Aaraaf”, que receberá uma apreciação favorável do crítico John Neal e será oficialmente editado entre 1829 e 1830 juntamente com “Tamerlão e Outros Poemas”.   
            Aproxima-se então de seu irmão Willian e de sua tia de sangue, Maria Clemm, irmã de seu pai, e que se tornará sua mãe e protetora até os últimos dias de sua vida. Com essa aproximação conhece e se afeiçoa por sua prima Virginia, que contava apenas sete anos de idade, e que será futuramente sua esposa.
              Em 1829 morre sua mãe adotiva  e com o segundo casamento de seu pai em 1831, Poe romperá definitivamente com a família Allan, o que de certo modo, facilitará sua expulsão da Escola Militar de West Point, por dívidas contraídas e por abandono do trabalho. Ele tenta a sorte na cidade de Nova York, mas sem conseguir emprego é obrigado a retornar para a casa de sua tia paterna, agora sua única família.     
            Em 1833, Edgar ganha um concurso em Baltimore com o conto “Manuscrito Encontrado Numa Garrafa” e graças a simpatia do crítico John P.Kennedy é contratado pelo Southern Literary Messenger na cidade de Richmond.
            Também em Richmond, seu pai adotivo vem a falecer em 1834 sem nem mesmo  cita-lo em seu testamento.
            Em 1835 publica o conto “Berenice”, e no ano seguinte casa-se secretamente com sua prima Virginia de apenas 13 anos de idade, apoiado por Maria Clemm sua tia e mãe de Virginia. Entre idas e vindas em diversos empregos nas cidades de Richmond, Nova York e Filadélfia, Poe publica alguns dos seus mais célebres contos, dentre os quais “Assassinatos na Rua Morgue” em 1841, “O Poço e o Pêndulo” em 1842 e “O Gato Preto” em 1843. Mas é apenas em 1845 que consegue reconhecimento ao publicar sua mais célebre poesia “O Corvo” no jornal Evening Mirror na cidade de Nova York. Com o sucesso de sua poesia, Poe ganhará algum dinheiro que será investido na compra do Brodway Journal, que se tornará sua maior derrocada financeira ao entrar em regime falimentar anos depois.
         As amarguras de Edgar Allan Poe não tinham limites. Virgínia sua esposa, sofre o rompimento de um vaso sanguíneo pulmonar durante o canto, o que lhe causa uma forte hemorragia interna que a faz cair doente sem nunca mais se recuperar. Em 1847 ela morre deixando o marido nas entranhas do luto e da miséria espiritual e financeira. Em 1848, tentando retomar sua carreira e sua vida, busca casar-se novamente, o que é descrito por vários de seus amigos e por alguns biógrafos como uma desesperada busca por uma “tábua de salvação”.
         Ele flerta com diversas mulheres, entre elas sua primeira namorada, Sarah, que fora obrigada a casar com outro, mas que agora está viúva. Diante da real possibilidade de se casar, viaja para convidar sua tia Maria Clemm para a cerimônia, mas misteriosamente é encontrado em uma sarjeta em Baltimore em 3 de outubro, praticamente inconsciente, em estado alucinatório, sem documentos nem pertences e vestido com roupas que não as suas.
           Levado ao hospital, morre em 7 de outubro de causas desconhecidas. As circunstâncias envolvendo sua morte permanecem bastante nebulosas, por influência do obituário difamatório de Griswold, pensou-se em alcoolismo exagerado, ou seja, delirium tremens, mas não existem documentos do hospital onde morreu, que comprovem ser essa a causa de sua morte.
           Em uma carta de sua amiga e contemporânea, a poetisa Sarah Whitman, existe a argumentação de que Poe era alérgico a álcool e incapaz de se embebedar. O que só deixa mais confusa as causas do seu óbito.  Vale lembrar que os franceses, graças especialmente a Baudelaire, reconheceram, ainda em vida, o gênio da obra de Poe, coisa que aconteceu nos Estados Unidos, muito tempo após a sua morte.

Roberto Morettho

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
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_________________. (1980). “Os limites de Edgar Poe” in Os Gêneros do
Discurso. São Paulo: Martins Fontes.
Sites:
www. eapoe. org

FICHA TECNICA DAS LEITURAS



CONCEPÇÃO GERAL: ROBERTO MORETTHO


DIREÇÃO DAS LEITURAS VESPERTINAS: ANDREZA DOMINGUES


DIREÇÃO DAS LEITURAS NOTURNAS: ROBERTO MORETTHO


ATORES/LEITORES: ALESSANDRO HERNANDEZ
                                      CRISTIANA GIMENEZ
                                       LÉIA RAPOZO


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