LEITURAS ENCENADAS DAS OBRAS DE EDGAR ALLAN POE NA SALA DE LEITURA DO SESC CONSOLAÇÃO EM 2009 - CIA O GRITO.
RESUMO
O Projeto “Leituras e Intervenções”, articulará algumas
obras da literatura e da
poesia de Poe com momentos referentes a sua vida. Faremos leituras encenadas
levando em consideração dois tipos de público: - publico jovem que terá contato
com seus contos de mistério e investigação e poesias juvenis; - publico adulto
que terá contato com seus contos de terror e poesias sobre a morte. Os contos e
poesias escolhidos para essas intervenções são respectivamente:O Sistema do Doutor Alcatrão e do Professor Pena, O Retrato Oval, Sepultamento
Prematuro e Assassinatos na Rua Morgue; Poesias: “Para” e “Imitação”; Contos: O
Gato Preto, Berenice, O Poço e o Pêndulo e Hop-Frog; Poesias: “O Corvo” e “Só”.
Cartas de Poe e fatos referentes à sua vida serão citados entre as leituras.
Também será disponibilizada uma bibliografia para pesquisa sobre Poe, bem como
um resumo de sua conturbada vida.
AS RAZÕES DE POE
Para o escritor Edgar Allan Poe, os sonhos têm importância fundamental
dentro de sua poética. As personagens conseguem se libertar da castração de
suas consciências e liberar todo o conteúdo do inconsciente, do íntimo de suas
almas. Tal libertação refletiria a busca pelo Romantismo de uma dimensão
totalizante perdida pelo ser humano ao longo da história, mistura de consciente
e inconsciente, razão e sentimento.
Entretanto, quando Poe libera este material inconsciente em suas obras,
acaba por delinear duas vertentes bem díspares: por um lado o divino, o alto,
uma evasão da realidade objetiva; por outro, todas as pulsões mais perversas
dos instintos humanos, todas as paixões e ódios abafados pela razão. Isso
possibilita um tratamento fantástico com conotações surreais em seus contos,
que apresentam perseguições, emparedamentos e loucuras permeando a narrativa.
É preciso salientar que tal liberação do inconsciente é seguida de um
trabalho bastante consciente de escritura, uma racionalização do onírico e
fantástico.
VIDA E OBRA
Edgar
Allan Poe nasceu em Boston, em 19 de janeiro de 1809. Sua família paterna, de
origem irlandesa, vivia em Baltimore, e era reconhecida entre as melhores
famílias da região. Seu avô, David Poe, participou com bravura da Guerra da
Independência norte americana e seu pai, David Poe Jr, fez-se herdeiro do
espírito de aventura que conduzira seu avô às trincheiras. David abandonou seus
pais e casou-se com a atriz inglesa Elizabeth Arnold. Ele juntou-se a troupe de
teatro de sua esposa e saiu em viagem pelos Estados Unidos, trabalhando como
ator junto de sua esposa. Com uma vida desregrada, devido as péssimas condições
das viagens, David Poe Jr, morrerá tuberculoso e alcoólatra, logo após o
nascimento de Edgar, seu terceiro filho com Elisabeth, que falecerá três anos
depois, também de tuberculose, deixando os filhos pequenos à mercê da caridade
de comerciantes e familiares da cidade de Richmond na Virginia, uma de suas
ultimas paradas com seu grupo. Edgar será acolhido por uma rica família de
comerciantes, os Allan, que o criarão como filho, apesar de nunca oficializarem
a adoção.
Sua
mãe adotiva, Francês Keeling Valentine, esposa do rico comerciante John Allan,
proporcionará ao garoto uma infância abastada, o que inclui um período como
estudante na Inglaterra que o influenciará em sua escrita. Poe é mandado
primeiro para a casa da tia de seu pai adotivo, Sra Mary Alan em Irvine na
Escócia, e posteriormente estudará em Londres e Stoke Newington: “Uma aldeia afagada numa multidão de árvores
gigantescas e nodosas e onde todas as casas pareciam excessivamente velhas”;
segundo palavras do próprio Poe.
Em
1824 com 15 anos de idade , Poe começa a
escrever seus primeiros poemas, é também o ano da primeira decepção amorosa: –
a mãe de um colega, pela qual se sentia atraído, morre louca e tuberculosa. No
ano seguinte, ele apaixona-se por uma vizinha, Sarah Elmira Royster Shelton, que é forçada a se casar com um rico
comerciante local. Serão estes os primeiros desencontros amorosos, de uma série
que Poe terá ao longo de sua curta vida.
Em
fevereiro de 1826, seu pai adotivo o matricula na Universidade da Virginia,
cujos estudantes se distraem com jogos de azar, brigas, ópio e bebedeiras. Afunda-se
no vício, acumula muitas dívidas no jogo e no final do ano é forçado por seu
pai a largar os estudos e a se alistar no exército em Boston.
Nessa época publica seu primeiro
livro de poemas, “Tamerlão e Outros Poemas” (1827), cuja edição passa
completamente despercebida. A seguir compõe o poema “Al Aaraaf”, que receberá
uma apreciação favorável do crítico John Neal e será oficialmente editado entre
1829 e 1830 juntamente com “Tamerlão e Outros Poemas”.
Aproxima-se então de seu irmão
Willian e de sua tia de sangue, Maria Clemm, irmã de seu pai, e que se tornará
sua mãe e protetora até os últimos dias de sua vida. Com essa aproximação
conhece e se afeiçoa por sua prima Virginia, que contava apenas sete anos de
idade, e que será futuramente sua esposa.
Em 1829 morre sua mãe
adotiva e com o segundo casamento de seu
pai em 1831, Poe romperá definitivamente com a família Allan, o que de certo
modo, facilitará sua expulsão da Escola Militar de West Point, por dívidas
contraídas e por abandono do trabalho. Ele tenta a sorte na cidade de Nova
York, mas sem conseguir emprego é obrigado a retornar para a casa de sua tia
paterna, agora sua única família.
Em
1833, Edgar ganha um concurso em Baltimore com o conto “Manuscrito Encontrado
Numa Garrafa” e graças a simpatia do crítico John P.Kennedy é contratado pelo Southern Literary Messenger na cidade de
Richmond.
Também em Richmond, seu pai adotivo
vem a falecer em 1834 sem nem mesmo
cita-lo em seu testamento.
Em
1835 publica o conto “Berenice”, e no ano seguinte casa-se secretamente com sua
prima Virginia de apenas 13 anos de idade, apoiado por Maria Clemm sua tia e
mãe de Virginia. Entre idas e vindas em diversos empregos nas cidades de
Richmond, Nova York e Filadélfia, Poe publica alguns dos seus mais célebres
contos, dentre os quais “Assassinatos na Rua Morgue” em 1841, “O Poço e o
Pêndulo” em 1842 e “O Gato Preto” em 1843. Mas é apenas em 1845 que consegue
reconhecimento ao publicar sua mais célebre poesia “O Corvo” no jornal Evening
Mirror na cidade de Nova York. Com o sucesso de sua poesia, Poe ganhará algum
dinheiro que será investido na compra do Brodway Journal, que se tornará sua
maior derrocada financeira ao entrar em regime falimentar anos depois.
As amarguras de Edgar Allan Poe não tinham limites. Virgínia sua esposa, sofre
o rompimento de um vaso sanguíneo pulmonar durante o canto, o que lhe causa uma
forte hemorragia interna que a faz cair doente sem nunca mais se recuperar. Em
1847 ela morre deixando o marido nas entranhas do luto e da miséria espiritual
e financeira. Em 1848, tentando retomar sua carreira e sua vida, busca casar-se
novamente, o que é descrito por vários de seus amigos e por alguns biógrafos
como uma desesperada busca por uma “tábua de salvação”.
Ele flerta com diversas mulheres,
entre elas sua primeira namorada, Sarah, que fora obrigada a casar com outro,
mas que agora está viúva. Diante da real possibilidade de se casar, viaja para
convidar sua tia Maria Clemm para a cerimônia, mas misteriosamente é encontrado
em uma sarjeta em Baltimore em 3 de outubro, praticamente inconsciente, em
estado alucinatório, sem documentos nem pertences e vestido com roupas que não
as suas.
Levado ao hospital, morre em 7 de
outubro de causas desconhecidas. As circunstâncias envolvendo sua morte
permanecem bastante nebulosas, por influência do obituário difamatório de
Griswold, pensou-se em alcoolismo exagerado, ou seja, delirium tremens,
mas não existem documentos do hospital onde morreu, que comprovem ser essa a
causa de sua morte.
Em uma carta de sua amiga e
contemporânea, a poetisa Sarah Whitman, existe a argumentação de que Poe era
alérgico a álcool e incapaz de se embebedar. O que só deixa mais confusa as
causas do seu óbito. Vale lembrar que os
franceses, graças especialmente a Baudelaire, reconheceram, ainda em vida, o
gênio da obra de Poe, coisa que aconteceu nos Estados Unidos, muito tempo após
a sua morte.
Roberto Morettho
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